domingo, 19 de agosto de 2012

A AMEAÇA DOS URUBUS

                                                                  


Naquela mesa da calçada, como eles faziam sempre as sextas, Mauro e mais dois colegas de trabalho tomavam sua cervejinha ao final do expediente de trabalho, no mesmo bar de sempre. Naquele dia, porém, notaram a presença de um urubu que os rodeava, vinha ao chão, voava até o telhado e plainava ao redor, como se tivesse de olho em algum resto de comida.
Tentaram espantar o bicho por várias vezes, mas era sempre inútil, voltava a ficar próximo deles. Chamaram o dono do bar e pediram uma explicação para aquele acontecimento estranho. O senhor anda tratando este urubu com restos de alimentos? Perguntou um dos colegas- Não senhor! É a primeira vez que eu vejo este animal por aqui. Respondeu.  Após pagarem a conta e fazerem diversas piadas com o ocorrido, foram cada um para seu lado.
Mauro descia a rua rumo ao metrô quando teve a impressão de ser seguido, olhou para trás e viu o pássaro negro a rodeá-lo. Achou engraçado e se lembrou das piadas com os amigos. Após vários passos largos e uma corridinha, olhou novamente para trás e viu os olhos fixos do carniceiro dirigindo-se a ele.
Sentiu um friozinho na espinha, como se fosse ameaçado, mas caindo em si pensou: Agora dei pra ter medo de urubu? era só o que me faltava! Entrou na estação central e pegou o trem, rumo a sua casa, ria sozinho sentado ao lado de outros passageiros lembrando-se do urubu.
A noite em sua casa, após o jantar, sentou-se no sofá e passeava com o controle da televisão, quando sua mulher, puxando assunto, indagou sobre o seu dia.
-Você não acredita que um urubu ficou rodeando nossa mesa no bar e me seguiu a até a estação do metrô hoje! Acredita?
- Vai ver você esta morrendo e ele esta esperando o corpo cair e apodrecer por ai, para ele se alimentar. Ria debochadamente.
-Engraçadinha! Como ele sabe se eu vou morrer. Ainda mais, ser esquecido por ai e apodrecer? Resmungou.
-Não sei, mas eles desconfiam, é o seu instinto. Voltou a rir. 
Uma semana se passou, novamente eles estão sentados na mesma mesa daquele bar, o urubu começa a sobrevoar o lugar, em poucos minutos, começam a aparecer outros pássaros iguais, parecem estar com raiva, começam a buzinar e olhar fixos para Mauro, desta vez os colegas ignoram as piadas, resolvem ir embora, pagam a conta e sai cada um para o seu lado, nada dizem um ao outro, parecem assustados. Mauro começa a se preocupar, os urubus começam a se multiplicar, sobrevoam pelo seu caminho, fazem voos rasantes, olham fixos para os seus olhos, parecem emitir raiva, os olhos de alguns parecem vermelhos, os olhos de outros parecem famintos, Mauro corre, desta vez, desesperadamente, entra na estação do metrô, seu coração esta acelerado, seu fôlego começa a faltar, senta e descansa , olha pela vidraça, vê alguns se debaterem no vidro das janelas da estação e de repente somem pelo céu que escurecia. Entra no trem, senta na poltrona, pálido,
começa a tremer, anda de um vagão ao outro, não consegue se acalmar, os passageiros notam a aflição, uma senhora começa a falar em nome de Jesus algumas palavras, ele se irrita, corre entre os vagões, desce uma estação antes de casa, sai correndo pelas ruas, chega a sua casa, pega umas roupas e começa a fazer uma mala, sua mulher assustada pergunta o que esta acontecendo, Ele diz: São os urubus! Eles querem me pegar, preciso fugir.
Anita, a sua mulher, pega o telefone, liga para sua sogra, conta o ocorrido, faz umas perguntas, desliga e volta a fazer outra ligação, desta vez para o farmacêutico, pede conselho, pergunta se existe algum tipo de remédio para acalmá-lo, desliga e vai até a porta, abre e olha para o céu, nada vê. Vai para o fogão, põe agua para ferver para fazer um chá de camomila com maracujá.
Mauro enche um copo de conhaque, toma, enche outro, engole, enche mais um, receia, mas toma. Vai até as janelas olha para o céu, grita como um lunático, Cadê vocês seus filhos duma puta! Apareçam, seus desgraçados, vou matar um a um!  Senta no sofá, começa a chorar e rir ao mesmo tempo. Anita chega com o chá, senta ao seu lado, nunca tinha visto Mauro naquele estado, tenta conversar.
-Fica calmo Amor! Toma esse chá, vai passar... Ela apoia a sua cabeça sobre os seus ombros, conta sobre o seu dia, sobre o filho, sobre a vizinha, tenta puxar assunto, tenta entretê-lo com outros pensamentos. Mauro vai se acalmando, acalmando...  Até que relaxa e cochila no colo da mulher.  Durante o domingo, Anita, conversa bastante com ele sobre o ocorrido, dá o endereço de uma amiga que se formou psiquiatra e que ia fazer um 
preço mais camarada, depois de falar com ela ao telefone e ouvir dela o alivio que bastaria um simples remédio pra ele parar com esta loucura. Mauro se diz propenso a visita-la, resolvem esquecer o assunto e falar dos planos para o mês seguinte, que seria férias. O fim de semana passa...
Novamente é sexta feira, nenhum dos colegas de trabalho toca no assunto, não vão ao bar, vão direto para casa. Mauro pega um táxi, não vai de metrô. Passa na padaria perto de casa, toma uma cervejinha, compra pão e frios para o lanche, desce a rua calmamente,refeito do susto da semana passada, tomando um comprimido de revotril ao dia.
Gira o trinco da porta, entra, vai até a cozinha, põe os frios na geladeira, abre uma cervejinha, senta no sofá, liga a tv, procura por um canal de esporte, aliviado, esboça um sorriso e se sente seguro no conforto do seu lar.Meia hora depois, sente falta da mulher e do filho, não ouve barulho nenhum dentro de casa, Não estão em casa, deduz! Começa ligar para o celular dela, ouve o aparelho tocar debaixo da almofada, imagina que devam estar na vizinha! Vai até lá, toca a campainha, pergunta por eles, não estão, fica preocupado.
Volta para casa, anda pelos cômodos, vê peças de roupas espalhadas sobre a cama, não encontra a mala em cima do guarda roupa, vai até o quarto do filho, não encontra o pôster pendurado do Batman, se desespera. Vai até a cozinha, encontra um bilhete escrito: Eles voltaram, fuja!


Marcos tavares de souza,
é fã do urubu malandro,
(desenho animado do pica-pau)
















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